Pare de Definir Metas. Comece a Prescrever Tratamentos.
Esqueça as metas que são meros desejos e comece a tratar seu negócio como um médico especialista, não como um curandeiro. Este artigo defende que uma meta de verdade é uma "prescrição" clara — com valor, prazo e responsável — que só pode ser definida após um "diagnóstico" profundo, baseado na análise de dados para encontrar a verdadeira causa do problema. Usando como exemplo a história de um industrial que atingiu o maior lucro da história ao focar na meta de "zerar acidentes de trabalho", o texto prova que os melhores resultados financeiros são uma consequência de curar a doença operacional da empresa, e não apenas de tratar os sintomas com desejos vagos.
Gerson Soares
9/16/20255 min read
99% das metas que você define para a sua empresa estão fadadas ao fracasso.
Pode parecer duro, mas é a verdade. Elas morrem em planilhas esquecidas no Google Drive, em post-its que perdem a cola na parede ou em reuniões de "kick-off" que mais parecem festas de ano novo: muita promessa que não sobrevive até o Carnaval.
E a culpa não é da sua equipe. A culpa é do método. Ou melhor, da falta dele.
O problema é que a maioria dos líderes, na hora de definir uma meta, age como um curandeiro, não como um médico especialista. Eles oferecem um "chá milagroso" baseado na intuição ("acho que a gente precisa vender mais!") e esperam que a empresa se cure sozinha.
Hoje, nós vamos acabar com isso. Vou te mostrar a diferença brutal entre um desejo e um diagnóstico, e como aplicar um método para definir metas que realmente saem do papel e viram resultado no caixa.
O Curandeiro vs O Especialista: Qual deles é você?
Pense na última meta que você definiu. Foi algo como "melhorar o engajamento" ou "aumentar a eficiência"? Se foi, sinto informar: você receitou um chá de boldo. É uma intenção vaga, sem poder de cura.
Um tratamento médico de verdade, uma prescrição que salva vidas (e empresas), tem três componentes inegociáveis. Uma meta real também.
A Dose (Valor Numérico): O médico não diz "tome um pouco de remédio". Ele diz "tome 500mg". A meta precisa de um número. "Aumentar a receita" é um desejo. "Aumentar a receita em 15%" é uma dose.
A Duração (Prazo Definido): O médico não diz "tome até melhorar". Ele diz "tome por 7 dias". A meta precisa de uma data no calendário. "...até o final do ano" ou "...no próximo trimestre".
O Paciente (Responsável Claro): Alguém é o responsável por tomar o remédio. Na empresa, alguém tem que ser o "dono" da meta, o cara que vai responder por aquele resultado.
Sem dose, duração e paciente, o que você tem não é uma meta. É uma torcida. E como sabemos, empresas não sobrevivem de torcida.
O Método do Especialista: O Check-up Completo Antes da Receita
Um bom médico NUNCA receita nada antes de um diagnóstico completo. Um bom gestor faz o mesmo. Definir uma meta sem dados é o mesmo que um médico receitar quimioterapia porque o paciente disse que "está se sentindo meio pra baixo". É irresponsável e perigoso.
O que você que está "voando no escuro" está fazendo agora – organizando tabelas e registrando informações – não é um "passo antes" da meta. É o primeiro e mais crucial passo do tratamento: os exames de sangue.
A sequência correta é essa:
Passo 1: A Queixa Principal (Onde dói?): Tudo começa com a intenção. A diretoria não acorda e diz "vamos reduzir o refugo em 3.2%!". Ela diz: "Nosso lucro está sendo esmagado." Essa é a dor. Essa queixa te diz onde o médico (você, gestor) deve focar a investigação.
Passo 2: Os Exames (O Diagnóstico com Dados): Com a queixa em mãos, você vai para o laboratório. É a hora de coletar dados, organizar as planilhas, medir a febre. Você transforma a "sensação" ("acho que estamos gastando muito") em um "fato" ("nosso custo com matéria-prima representa 40% da receita").
Passo 3: O Padrão de Saúde (O Benchmark): O médico pega seu exame de colesterol de 250 e compara com a tabela de referência, que diz que o ideal é abaixo de 180. Ele encontrou a lacuna: a distância entre a sua doença e a sua saúde. Na gestão, você compara seu resultado com o do melhor concorrente, com seu próprio recorde histórico, ou com um padrão de excelência.
Passo 4: A Receita Médica (A Meta): Agora, e só agora, o médico prescreve o tratamento. Ele não vai dizer "zere seu colesterol até amanhã". Ele vai criar uma meta desafiadora, mas factível. "Vamos reduzir 50% dessa lacuna nos próximos 12 meses". Essa é a meta. Ela nasceu dos fatos, não da fumaça.
A Surpresa do Industrial que Curou a Empresa Tratando a Febre Certa
Deixa eu te contar uma história que ilustra isso melhor do que qualquer gráfico.
Imagine um consultor chegando a uma indústria familiar, um negócio tradicional no interior do país. Ele senta na mesa com o fundador, um senhor de idade, pronto para uma conversa sobre EBITDA, market share e outros jargões financeiros.
O consultor faz a pergunta-chave, a que revela a alma de qualquer negócio: "Qual é a sua meta mais importante? Aquela que, se não for atingida, te tira o sono à noite?"
O senhor não diz uma palavra sobre dinheiro.
Ele se levanta em silêncio, caminha até um quadro branco simples em sua sala e aponta para um gráfico desenhado à mão. Uma linha que vinha caindo, ano após ano.
"Doutor", diz o industrial, "minha meta é esta aqui: zerar o número de acidentes de trabalho com afastamento. Ano passado, tivemos dois. E isso me tirou o sono. A meta é zero. Enquanto eu tiver um funcionário meu voltando para casa machucado, nenhuma meta de lucro importa mais do que essa."
O consultor ficou em silêncio. Aquilo era foco. Era clareza moral.
Mas a parte mais genial vem agora. Para atingir a meta de "zero acidentes", a empresa foi forçada a fazer uma revolução interna. Eles tiveram que padronizar processos perigosos, treinar a equipe com um rigor nunca antes visto, criar uma disciplina de supervisão implacável e melhorar radicalmente a organização do chão de fábrica.
E qual foi a consequência de toda essa arrumação?
A produtividade explodiu. O desperdício de material caiu drasticamente. A qualidade dos produtos subiu. E, no final daquele ano, a empresa teve o maior lucro de sua história.
Ele foi o médico mais sábio de todos. Ele entendeu que o lucro baixo era apenas um sintoma. A verdadeira doença era a falta de disciplina e padrão na operação. Ao curar a doença, os sintomas desapareceram como mágica.
Conclusão: Menos Prioridades, Mais Obsessão
A história desse industrial nos ensina a lição final: quem tem muitas prioridades, na verdade, não tem nenhuma.
Um gestor, uma equipe, um negócio, deve ter de três a cinco metas prioritárias por ano. No máximo. A liderança de verdade não é sobre ter muitas ideias, mas sobre ter a coragem de escolher as poucas batalhas que realmente importam e lutar nelas até a vitória.
Então, olhe para sua empresa agora. Você está agindo como um curandeiro, distribuindo desejos e esperando o melhor? Ou você está vestindo o jaleco, pegando a prancheta e fazendo um diagnóstico sério para prescrever um tratamento que realmente funciona?
O resto é conversa. É torcida. E empresas não vivem de torcida. Vivem de diagnóstico preciso e tratamento bem executado.
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